Professores reivindicam durante audiência na Alece mais suporte à saúde mental

– Foto: Dário Gabriel
Profissionais e entidades ligadas à docência cobraram, durante audiência pública realizada pela Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece), por meio da Comissão de Educação Básica (CEB), na tarde desta quinta-feira (19/10), mais apoio à saúde mental dos trabalhadores da educação.
O encontro atendeu a requerimento de autoria do deputado Renato Roseno (Psol), que explicou que a urgência de debater a temática se justifica pelo agravamento dos problemas enfrentados pelos professores, principalmente aqueles da educação básica, o que impacta diretamente nos adoecimentos ligados à saúde mental.
Ele relatou ainda que tem recebido informações de que atualmente existe um aumento nos casos de afastamentos de docentes por doenças. “É necessário dizer que o cotidiano da escola mudou muito, em especial na última década, e hoje ela é atravessada por muitas intercorrências, entre elas a sobrecarga de trabalho e maiores responsabilidades”, destacou o parlamentar.
O debate gerou diversos encaminhamentos, entre eles a criação de uma agenda para tratar e dar andamento nos pontos levantados durante a audiência, como a necessidade de criação de uma instância permanente de apoio; o desenvolvimento de um protocolo de cuidados; a promoção de estratégias de prevenção ao assédio moral; a ampliação do financiamento; a criação de políticas de combate à sobrecarga, à pressão por desempenho, ao assédio moral e à perseguição ideológica.
DISCUSSÕES
Para o psicólogo idealizador do projeto Lugar do Sentir, que presta serviços de atenção à saúde mental dos trabalhadores da educação, Renê Dinelli, falta interesse dos gestores para que sejam desenvolvidas políticas que possibilitem resultados efetivos. Renê entende que, muitas vezes, falta diálogo e que aqueles que ocupam cargos de gestão não querem compreender a complexidade do problema.
O psicólogo argumentou ainda que é necessário que a causa seja abraçada por toda a sociedade, pois os impactos atingem a todos. “Se a saúde mental dos professores está precarizada, a educação está comprometida e a escola está ameaçada, façamos algo!”, afirmou.
Falando em nome dos professores da rede estadual de educação, Anna Karina alertou para os problemas relacionados ao assédio moral no contexto escolar. Segundo ela, os excessos ocorrem por diferentes causas, incluindo a exigência por mais produtividade ou até por ascensão funcional. A professora comentou que atualmente está afastada por adoecimento mental e por bursite e que a realidade das escolas precisa ser enxergada para que comece a mudar.
Na avaliação da representante do Sindicato Unificado dos Profissionais em Educação de Maracanaú (Suprema), Nívia Marques, a desvalorização da categoria se destaca como um dos principais motivadores de adoecimentos. A profissional relatou que, no município em que atua, os trabalhadores estão enfrentando um cenário de precarização, falta de diálogo, descumprimento do plano de cargos e salários e baixo acesso aos canais de negociação por melhorias.
Para a professora e representante dos professores da rede municipal de educação de Fortaleza, Maya Eliz, os níveis de cobrança aumentaram muito nos últimos anos, o que faz com que os profissionais sejam obrigados a se reinventar constantemente sem o suporte necessário. “A gente é cobrado para construir ferramentas inovadoras, mas muitas vezes não temos sequer internet na sala dos professores”, contou.
Sobre a docência em nível superior, a professora titular da Universidade Federal do Ceará (UFC) Maria do Céu ressaltou que existem muitos desafios na atuação nos espaços universitários e que nos últimos anos as condições de trabalho pioraram. Ela detalhou que entre os desafios está a falta de estrutura para o desenvolvimento dos programas de extensão e pesquisa, gerando uma sobrecarga e maior esforço para chegar aos resultados necessários ao ensino superior.
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Foto: Dário Gabriel
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES
Representando o Instituto de Previdência do Município (IPM) de Fortaleza, Josué de Sousa Lima informou que, no âmbito do município, de janeiro a setembro deste ano, foram concedidas 1.262 licenças a professores pela perícia médica em decorrência de doenças mentais, um número que corresponde a 29,39% do total entre todos os servidores da capital.
A secretária executiva da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), Jucineide Fernandes, entende que o bem-estar psicossocial está ligado à valorização docente, a melhores condições de trabalho e de remuneração. Ela detalhou que a pasta vem desenvolvendo ações preventivas, entre elas a orientação para momentos mensais de escuta coletiva, a oferta de atendimento psicológico, palestras, ações formativas com profissionais da psicologia e oficinas de diálogos socioemocionais.
Ainda no âmbito estadual, a coordenadora de Políticas de Saúde Mental do Centro Estadual de Referência em Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (Cerest/Ce), Raimunda Félix de Oliveira, contou que no momento está em fase de desenvolvimento o plano de execução da Política Estadual de Promoção da Saúde e que, recentemente, foi publicada a linha de cuidado dos servidores com problemas de transtorno mental, tendo como porta de entrada a atenção primária na Unidade Básica de Saúde.
Com relação à rede educacional de Fortaleza, o gerente da Célula de Mediação Social e Promoção da Cultura de Paz da Secretaria Municipal de Educação (SME), Alexandre Viana, explicou que, apesar de o foco do profissional de psicologia escolar serem os estudantes, em casos em que haja solicitação, pode ser oferecido atendimento para professores. Segundo ele, outras ações do município são a manutenção de plantão psicológico na Academia do Professor, o Grupo de Apoio à Saúde do Professor (Gasp), além da criação de um protocolo de gestão de estresse para situações pós-crise, em parceria com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
O encontrou contou ainda com a participação do subscritor da audiência, deputado Guilherme Sampaio (PT); da professora da rede estadual e municipal de ensino Lara Paz; da vereadora de Fortaleza Adriana Almeida (PT); do representante do Sindicato dos Servidores Públicos Lotados nas Secretarias de Educação e de Cultura do Estado do Ceará e nas Secretarias ou Departamentos de Educação, Maurício Manoel; da promotora do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), Isabel Porto, e do superintendente do Instituto de Saúde dos Servidores do Estado do Ceará (Issec), José Olavo Peixoto Filho
Fonte da matéria:https://www.al.ce.gov.br